Ações antiéticas tendem a ser aceitas por brasileiros
Teste de integridade mostra que 46% desviariam bens de suas companhias ou não denunciariam colegas
Teste de integridade mostra que 46% desviariam bens de suas companhias ou não denunciariam colegas
Pesquisa divulgada nesse começo de ano pelo jornal Valor Econômico joga um balde de água fria em quem imaginava um resultado mais promissor para as lições anticorrupção da já histórica Operação Lava-Jato. Ela mostra que ações antiéticas tendem a ser aceitas por brasileiros. Quase metade dos profissionais (46%) submetidos a um teste de integridade demonstra ter tendência a sucumbir a desvios ou a não denunciar colegas que desviam bens da empresa. Além disso, 48% manipulariam relatórios de despesas pagas pela companhia com o intuito de ganhar mais.
Na mesma pesquisa, realizada pelo Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC), dois terços dos entrevistas (66%) demonstraram ter tendência a realizar pagamentos indevidos para beneficiar fornecedores, e somente 29% percebem que pagamentos indevidos a terceiros são uma modalidade de fraude.
“Muitas pessoas não cometem a fraude diretamente, mas se percebem um colega fazendo não interferem. Isso tem muito a ver com a nossa cultura, a ideia do jeitinho brasileiro, de aceitar ações antiéticas desde que elas não afetem diretamente a vida da pessoa”, comenta Renato Santos, diretor acadêmico do IPRC e professor de compliance no Ibmec, Gipecafi, Fecap, FIA e Trevisan Escola de Negócios.
Lançado em 2018, o instituto é resultado de uma parceria entre a S2 Consultoria e a Meu Estúdio, produtora de conteúdo de comunicação corporativa e reúne especialistas da academia e do mercado. Para chegar aos números da pesquisa, o instituto aplicou um teste desenvolvido por Santos chamado Potencial de Integridade Resiliente (PIR), em 2.435 profissionais de 24 empresas. Eles foram submetidos a um extenso questionário que simula dilemas éticos e expõe o entrevistado a diferentes situações de corrupção, apropriação indevida e fraudes.
Santos explica que as perguntas não são diretas, do tipo “você aceitaria suborno?”. Os temas são abordados de forma sutil – como na pergunta “se você recebesse presente de um fornecedor na sua casa como você se sentiria? Feliz ou irritado?” Questões nessa linha são feitas repetidas vezes para que se consiga realmente identificar a visão do entrevistado sobre o assunto. A precisão do PIR é de 82%.
Em outra questão, o entrevistado responde à pergunta “o que te impediria de aceitar suborno”. “Se a pessoa colocar o medo de ser pega ou fato de ter um bom salário, isso indica que dependendo da situação ela pode aceitar”, diz.
Nesse cenário de índices tão elevados de tendência a aceitar desvios éticos no trabalho, a saída é a empresa ter um conjunto de regras de compliance e apresentá-lo ao funcionário logo que ele entra. “Às vezes, ele vem de uma empresa onde essa cultura é aceita, então é importante alinhar com ele o que a empresa não tolera em termos de política de compliance”, afirma.
Além disso, é necessário trabalhar o tema continuamente na organização. Por fim, um terceiro ponto é a manutenção de um canal de denúncias seguro e confidencial. “É fundamental dar ao funcionário a possibilidade de denunciar de forma anônima e sem qualquer tipo de retaliação.”
Para Gino Oyamada, diretor da 3G Consultoria, o país avançou de forma importante nos últimos anos, em direção a um ambiente corporativo e político mais ético. Foram vitais para isso instrumentos como a Lei Anticorrupção, que acaba de completar três anos de vigência, e a Lei das Estatais.
Também cabem méritos aos esforços da força-tarefa que levou a cabo a gigantesca investigação conhecida como Operação Lava-Jato, responsável por desbaratar quadrilhas de corruptores e corruptos na esfera pública e na privada, por dezenas de prisões e pela recuperação de grandes valores para os cofres públicos.
Mas ainda há muito por fazer e para conquistar. “Esse é um esforço que cabe à toda sociedade. Mas sem dúvida as empresas e seus gestores têm uma grande responsabilidade em suas mãos, pela capacidade de construir bons exemplos e gerar resultados que sirvam de exemplo para todos. Só as empresas com boa governança serão capazes de reverter essa tendência perniciosa, e de sobreviver em um mundo que cobra cada vez mais caro pela licença social para atuar”, alerta Oyamada.
Leia mais em https://glo.bo/36tMjAB
13 dos 15 cargos estão ligados aos setores de tecnologia da informação e internet, com o gestor de redes sociais ocupando a primeira posição do ranking
Teste de integridade mostra que 46% desviariam bens de suas companhias ou não denunciariam colegas
Até dezembro de 2019 foram firmados 11 acordos de leniência com empresas por crimes de corrupção e fraude em licitações
Um bom trabalho é o que está em consonância com o seu plano de vida, e não com o dos outros
Lista foi feita com base em pesquisa com 170 mil funcionários de 80 organizações brasileiras
Programa de Governança e Integridade: cerca de 11% dos benefícios têm indício de erros
Operação Lava Jato marca avanço do Brasil no mapa da ética, desde a realização da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção
Estudos mostram que equipes podem aparentar maior engajamento do que possuem
Empresas que investem em clima organizacional e gestão de pessoas retêm talentos e inspiram o mercado, destaca Christiano Oliveira, da 3G Consultoria
A implantação da governança corporativa terá sucesso se os líderes mudarem comportamentos do dia a dia, de forma gradual e consistente