6 jun 2019 - 19h58

Os novos desafios das empresas familiares

Seminário compartilhou o depoimento de jovens sucessores e de especialistas em soluções jurídicas e de governança

 Caracterizada pela inovação e pela rapidez, a transformação vivida pelos negócios hoje, quando a quebra de tradições se tornou a regra, impõe uma complexidade adicional para empresas familiares. Com o objetivo de apontar um caminho mais seguro para lidar com esse desafio, o CMT – Carvalho, Machado e Timm Advogados e a 3G Consultoria realizaram nesta quarta-feira, 5 de junho, o seminário O papel das Novas Gerações nos Negócios de Família. Os empresários Jefferson Recus, diretor da Romac, e Roberto Nahas, do Grupo IESA, dividiram painel com Rafael Bicca Machado, um dos sócios fundadores do CMT, e Gino Oyamada, da 3G Consultoria, no auditório da sede do CMT, em Porto Alegre.

Na abertura do painel, Rafael Bicca Machado expôs uma questão que resumiria o debate: “Como planejar a sucessão nas empresas familiares quando, ao que tudo indica, em grande parcela os negócios vão desaparecer ou serão mudados de forma radical?” Além das mudanças no mundo dos negócios de forma global, há a perspectiva nacional de uma reforma tributária que pode impactar em sucessões, heranças e até mesmo na distribuição de dividendos.

O primeiro passo é focar nas peculiaridades de cada família. É preciso entender as múltiplas realidades que existem em cada uma. Com o avanço das gerações, o que era uma família muitas vezes na prática se caracteriza mais por uma comunhão de sobrenomes, com parentes em situações e interesses distintos, tornando o arranjo mais complexo.

Para isso, um papel fundamental é o da governança: estruturar boas práticas de gestão voltadas a antecipar e resolver riscos e conflitos. “A governança se aplica a qualquer tamanho de negócio”, ressaltou Gino Oyamada. “É um preventivo a uma série de contratempos. Os conflitos normalmente surgem em duas circunstâncias: quando falta dinheiro, ou quando há muito dinheiro na mesa. Por isso é importante planejar antes de os problemas surgirem.”

É fundamental estabelecer um protocolo familiar, ou um bom acordo de acionistas, de definir previamente critérios de entrada e de saída de sócios, seguindo os princípios de equidade, transparência, responsabilidade e de prestação de contas. “Sócio tem de prestar contas, sim”, observou.

Com sua experiência lidando com sucessão familiar, Gino ressaltou que os bons conselhos estão oxigenando as suas estruturas para abarcar o mundo que está por vir e repetiu um recado que costuma dar aos pais: “Encorajem os filhos a resolverem problemas significativos para si e para o mundo”.

Aos 35, anos, Jefferson Recus, diretor da Romac Técnica de Máquinas e Equipamentos Ltda, empresa com sede em Gravataí (RS) que atua no mercado de revenda de equipamentos desde 1986, compartilhou a sua visão de quem assumiu o desafio de fazer prosperar a empresa fundada pelo pai. “Na entrada da empresa, identifiquei logo de cara que a gente tinha bons valores e era competente do ponto de vista técnico, entretanto falhava em processos e administrativo”, contou.

Jefferson procurou melhorar a gestão da empresa, combinando a ousadia de experimentar novos negócios e a humildade de ouvir a geração anterior. Percebeu que o empreendedor inicial tende a focar o core business e deixar em segundo plano a administração e a gestão de dinheiro. Na direção da Romac, Jefferson conduziu um movimento de risco mas que se mostrou acertado: a da importação, atividade mais complexa e que exige uma organização melhor. O resultado foi um crescimento exponencial. Ainda assim, ele recomendou: “Para a gente que é importante para a segunda geração, é importante exercer a humildade, saber que o negócio que a gente toca é o sonho do empresário”.

Roberto Nahas, 27 anos, nasceu no ano em que foi fundado o Grupo IESA (1992). Ele divide a sala com os dois irmãos e salienta que o pai deles, fundador da empresa, nunca os obrigou a trabalharem na empresa. Roberto e os irmãos estão no comando hoje porque se identificam com as atividades que assumiram e se realizam com a sensação de empreender dentro da empresa. “Quem não tem vocação ou não é feliz na gestão não tem por que se inserir nela”, afirmou. “Não é porque nós três trabalhamos lá, que é o correto. Deu certo. É preciso fazer a reflexão do que é o melhor para a família e o melhor para a empresa.”

O fundador passou a operação para os filhos, mas se manteve como mediador, conselheiro, uma referência. Outra salvaguarda importante para os dirigentes da empresa é o Código de Conduta elaborado quando foi estruturada a sociedade como holding. “Quando as coisas estão andando normalmente é o melhor momento para fazer esse tipo de acordo”, enfatizou Roberto. “É muito importante que toda empresa tenha, independentemente do tamanho, e é importante que seja feito no momento correto.”

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