22 ago 2019 - 18h30

O aprendizado pessoal no desenvolvimento das lideranças

O ambiente empresarial exige novas habilidades e a forma de adquiri-las também se transformou

O modelo de desenvolvimento de lideranças vem mudando de forma acelerada, assim como os canais utilizados para formação e treinamento. Ao mesmo tempo, nunca foi tão necessário para as empresas investirem em seus executivos, e não apenas nos C-level.

O ambiente empresarial, volátil e complexo, exige competências e habilidades muito diferentes daquelas que se traduziam em sucesso há bem pouco tempo, no fim do século passado.

As empresas precisam investir não só em habilidades técnicas, como também na capacidade de relacionamento e comunicação, de forma que seus líderes possam tomar decisões alinhadas à estratégia e à cultura corporativa.

Ao mesmo tempo, cresce a oferta de cursos para treinar executivos e nem sempre os resultados são considerados positivos. Há estudos mostrando que mais da metade dos líderes seniores não veem nesses treinamentos a criação das habilidades e capacidades pretendidas.

Múltiplas razões

As causas são variadas, mas há algumas que se destacam. Entre elas, a diferença entre os objetivos de executivos em treinamento e seus empregadores, em relação ao futuro da carreira. Muitos não permanecem com quem financiou sua qualificação. Outra possibilidade é a diferença entre as habilidades desenvolvidas por programas de treinamento e verdadeira exigência da empresa que os financiou. Uma das dificuldades é a de desenvolver habilidades interpessoais que resultem em formação de redes e de colaboração.

Outra razão aparece na transferência de habilidades. Poucos profissionais conseguem aplicar os conhecimentos adquiridos em salas de aula no dia a dia de suas atividades.

Nuvem de aprendizado

Para enfrentar esse descompasso, há novidades no mercado. Cresce a oferta de plataformas sociais e interativas, com cursos online e ferramentas de aprendizagem, que formam a chamada “nuvem de aprendizado pessoal”, na sigla em inglês conhecida como PLC.

Os empregadores selecionam componentes da PLC e podem adaptá-los às suas equipes, de forma que os funcionários adquiram habilidades para o ambiente em que serão aplicadas.

O número de universidades corporativas com cursos a distância e on demand, que podem ser seguidos em casa ou até no trabalho, explodiu para mais de quatro mil nos Estados Unidos e mais que duplicou mundialmente, segundo estudo da Unicon.

Essa estrutura traz custos menores para as empresas, além de eficiência e agilidade. Torna possível separar as atividades de baixo e de alto custo de um programa de treinamento. De fato, a tendência é de que quanto mais serviços de interação humana forem incluídos no pacote, mais o provedor poderá cobrar.

A digitalização dos conteúdos permite entregar valor com mais eficiência. As palestras em sala de aula, por exemplo, podem ser gravadas em videoteipe e depois assistidas online por um número maior de interessados conforme sua conveniência. Da mesma forma, discussões em grupo e fóruns de debate para aprofundar e sedimentar conceitos da palestra podem ser orquestradas online, muitas vezes via plataformas como Zoom, Skype e Google Hangouts, permitindo a participação de muito mais interessados — e com menos problemas e gastos.

Os millennials já estão acostumados com interações via mídias sociais, por isso o valor de estar fisicamente presente no campus pode estar se desgastando. E como os componentes isolados de um programa de educação online — as aulas individuais, estudos de caso e outros — podem ser precificados e vendidos independentemente, o custo de desenvolver várias habilidades foi reduzido — principalmente habilidades técnicas e analíticas cujo ensino e aprendizado tornaram-se bastante padronizados.

Finalmente, a digitalização está levando à desintermediação. Tradicionalmente, as universidades, faculdades de administração e consultorias em gestão serviram como intermediários entre empresas e seus funcionários e educadores — acadêmicos, consultores e coaches. Agora, no entanto, as empresas podem acessar a internet para identificar (e, muitas vezes, selecionar) professores mais qualificados, experiências de aprendizagem e módulos — e não apenas os programas de melhor qualidade. Enquanto isso, os instrutores podem agir como “agentes livres” e obter melhor remuneração ou promover aulas-show mais satisfatórias, escapando da rotina e das restrições salariais de suas organizações afiliadas.

Artigos e notícias